sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Nelson Freire

Nascido em Boa Esperança-MG em 18 de outubro de 1944, desde os três anos mostrou a vocação para o piano, surpreendendo a todos tocando peças de memória que haviam sido executadas por sua irmã. Aos quatro anos já se apresentava em público.

Seus professores no Brasil foram Nise Obino e Lucia Branco, que havia estudado com um aluno de Franz Liszt. Em seu primeiro recital aos 8 anos de idade, Nelson escolheu a Sonata em La maior, K. 331 de Mozart.

Em 1957, ao 12 anos de idade, foi o sétimo colocado no Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, com a interpretação do Concerto Imperador, de Beethoven. Ganhou do então Presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, uma bolsa de estudos para ir a Viena aprender com Bruno Sidelhofer, que também ensinou Friedrich Gulda.

Em 1964, conquistou o primeiro lugar no Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta, em Lisboa e em Londres recebeu as medalhas de ouro Dinu Lipatti e Harriet Cohen.

Nelson Freire embarcou em carreira internacional em 1959, dando recitais e concertos nas maiores cidades da Europa, Estados Unidos, América Central e América do Sul, Japão e Israel. Nessa trajetória trabalhou com os mais prestigiados regentes e se apresentou como convidado de orquestras de prestígio.

Em Varsóvia (1999), realizou um triunfo genuíno com sua interpretação do Concerto para Piano e Orquestra nº 2 de Chopin, marcando os 150 anos de aniversário da morte do compositor. Em dezembro de 2001, presidiu o júri do Concurso de Piano Marguerite Long, em Paris.

Anos atrás, o respeitado crítico americano John Ardoin referiu-se ao mineiro Nelson Freire como “um dos segredos mais bem guardados do mundo do piano”. Isso pela maneira como o artista, considerado um dos dez melhores pianistas do mundo, conduziu sua longa carreira: poucos concertos, um número ainda mais limitado de gravações e uma absoluta falta de apetite para os rituais da fama. Sua timidez é legítima, um traço que ele parece ter adquirido ainda na infância.

Segundo críticos as principais qualidades musicais de Nelson Freire, um especialista no repertório romântico, são a doçura e uma leveza assombrosa, que faz passagens extremamente árduas parecerem fáceis. Freire também é considerado um pianista com estilo inconfundível, daqueles cujo toque é reconhecido às primeiras notas. Ele acredita que deve esse estilo à professora Nise Obino.

Fazendo cerca de sessenta apresentações anuais, ele divide seu tempo entre a casa no Rio de Janeiro, e um apartamento em Paris, isso quando não está viajando para se apresentar em qualquer parte do mundo.

Recentemente gravou os concertos para piano e orquestra de Liszt com a Dresden Philharmonic sob regência de Michel Plasson para a Berlin Classics. Sua gravação dos 24 Prelúdios de Chopin recebeu o Edison Award.

Ele tem contrato de exclusividade assinado com a Decca e o primeiro CD produzido foi dedicado as obras de Chopin, que ganhou aclamação unânime da crítica musical internacional. A gravação recebeu o Diapason d’Or e um prêmio “Choc” do Monde de la Musique. Também ficou como 10º no ranking da revista Répertoire e foi recomendado pela revista Classica.

Em 2007 ganhou o prêmio Classic FM Gramophone Awards, pela Gravação do Ano, com o CD Brahms Pianos Concertos que também foi premiado na categoria concerto. O disco foi regido pelo italiano Ricardo Chailly, à frente da Orquestra Leipzig Gewandhaus. Nelson Freire ainda tem projeto de gravar um Cd com obras de Schumann e: Beethoven considerado uma novidade em seu repertório.

Para não perder sua marca registrada: a timidez e a pouca intimidade com entrevistas, o mais bem guardado segredo do piano mundial, continua em segredo para os ribeirãopretanos até o próximo dia 22 de novembro, quando se revelará plenamente, no Concerto Internacional que fará com Orquestra Sinfônica no Theatro Pedro II.

É com grande prazer que já adiquiri os ingressos para o esperado evento que só ocorre em Ribeirão uma vez por ano "sendo essa a segunda vez".Nelson um dos melhores do mundo demonstra toda a sua levesa e virtude no piano.Mais que um concerto é uma aula para o resto do ano .

domingo, 15 de novembro de 2009



Heitor Villa-Lobos, os 50 anos da morte de um gênio da música

Talento do compositor se livra de antigos rótulos e passa a ser compreendido em toda sua multiplicidade



SÃO PAULO - Há 50 anos, no dia 17 de novembro, morria no Rio de Janeiro, aos 72 anos, Heitor Villa-Lobos. Não foi pequena a comoção pelo desaparecimento do nosso maior compositor. Para um grupo, desaparecia o criador de uma música essencialmente brasileira, o desbravador de sertões e florestas em busca do folclore que serviria de inspiração para suas obras; para outro, o grande vilão da criação moderna, símbolo de atraso e conservadorismo.



Quem estava certo? No palco da vida musical brasileira, Villa-Lobos desempenhou, desde sua morte, diversos papéis. E nos últimos anos não apenas a vanguarda reviu a posição crítica com relação à sua obra, como o folclore mostrou-se apenas parte de um todo bastante maior. Menos do que um símbolo, Villa hoje reaparece como figura incoerente, que cabe em todas as definições que se aplicaram a ele - mas não se limita a nenhuma delas. Está, enfim, livre para ser ele mesmo.



Conjunto caótico



"Já é hora da obra de Villa-Lobos falar por si própria", diz o maestro e compositor Gil Jardim, autor de O Estilo Antropofágico de Villa-Lobos. "Temos depurado nossa percepção de seu legado e a obra vem conquistando crescente autonomia pelo seu valor intrínseco", continua. Villa-Lobos nasceu no Rio em março de 1887. Autodidata, foi influenciado pela música dos chorões cariocas, assim como demonstrou interesse desde o início por manifestações folclóricas. Viveu durante duas temporadas em Paris (nos anos 10 e 20), onde teve contato com a música de Claude Debussy e Igor Stravinski e, no fim da vida, morou nos EUA, onde compôs para cinema e para a Broadway. Escrevia muito, sem se preocupar em passar a limpo ou revisar as partituras. Entrar na sua obra é, portanto, conviver com um universo caótico de cerca de 1.200 peças das mais diferentes proporções, inspirações e técnicas, como os ciclos das Bachianas Brasileiras e dos Choros. "Ele conseguiu um amálgama de muitas correntes de sua época, como o nacionalismo, o neoclassicismo, o experimentalismo, o exotismo, até mesmo prediz o minimalismo", diz a pianista Sonia Rubinsky, que gravou a integral de sua obra para piano (selo Naxos).



"Ezra Pound disse que um escritor se divide em três categorias: aquele que inventa e, portanto, muda a história; aquele que é um mestre e consegue captar com maestria as ideias de outros; e aquele que copia. Parece que Villa-Lobos foi tudo isso. Ele extrapola rubricas", acredita a compositora Jocy de Oliveira. Para o maestro Julio Medaglia, até mesmo a relação dele com o folclore já passa por reavaliação. "Ele não foi um provinciano. Ele sabia o que de novo se fazia na Europa e armou uma guerra entre a matéria-prima nacional e o know-how da música do Ocidente", diz. "O que resta, hoje, é sua obra extensa, polêmica, forte, carismática, com muita brasilidade, mas também universalidade", completa o maestro Luis Gustavo Petri. "Sua obra, irregular, complexa, tem muitos aspectos ainda a serem avaliados", afirma o violonista Edelton Gloeden. E o compositor Gilberto Mendes, um dos autores do Manifesto Música Nova, que orientou parte da vanguarda brasileira, acrescenta: "Admiro sua inventividade, a modernidade de sua linguagem. Não me interesso pelo seu brasileirismo e, sim, ao contrário, pelo seu ecletismo tropicalista pós-moderno avant la lettre".



Gerações



A revisão da imagem de Villa-Lobos de alguma forma parece relacionada à dissolução da dicotomia entre nacionalistas e vanguardistas que, meio século depois, já não pauta mais a produção de compositores brasileiros. "Estamos livres do domínio ideológico e político associado à imagem de Villa, e cada vez mais se interessando pelo compositor, seu métier e obras que ainda estão por ser melhor entendidas, e que têm muito a contribuir na formação de novas bases da composição, especialmente no âmbito da orquestração e da estruturação formal", diz o compositor Leonardo Martinelli.



"Os músicos da geração seguinte a Villa-Lobos foram de algum modo intimidados por sua sombra. Já minha geração foi formada reagindo negativamente à escola nacionalista e, a princípio, o ignoramos. Mas em meados dos anos 80 começamos a descobrir que Villa-Lobos tinha também muitas facetas revolucionárias e pudemos recuperar aspectos da linguagem de suas obras atonais e continuar a desenvolvê-los sem que isso representasse um peso intimidador", diz o compositor e professor da USP Rodolfo Coelho de Souza, apontando para uma realidade na qual a música brasileira parece livre da sombra onipotente do autor das Bachianas. Não chega a ser um paradoxo que tal realidade liberte o próprio Villa-Lobos de sua história. E o traga para o presente.

FONTE: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,heitor-villa-lobos-os-50-anos-da-morte-de-um-genio-da-musica,466148,0.htm